O complexo de museus da cidade de Liverpool contém uma grande coleção de arte tradicional africana, constituída sobretudo na segunda metade do século XIX e início do XX, e está abrigada no World Museum. A coleção, notadamente da África do oeste, é de cerca de 11 mil itens. Segundo Zachary Kingdon, curador, o objetivo atual desse museu é trabalhar sobre as agências africanas no chamado “comércio” com a Europa, buscando vestígios que permitam compreender as motivações nas escolhas de objetos oferecidos como intercâmbio. Infelizmente, grande parte da documentação que acompanha os artefatos foi perdida no grande bombardeio que arrasou a zona portuária de Liverpool na Segunda Guerra Mundial. A base da formação do acervo do World Museum está relacionada ao caráter comercial da cidade portuária, lembrando que boa parte dos objetos que compõem a seção de África foram obtidos de doadores africanos em transações comerciais, o que não é comum em outros museus. O museu tem estabelecido vínculos importantes com a comunidade negra local, com as universidades e buscado construir uma política para a restituição de bens.
Esse caráter comercial de Liverpool fez dela o maior porto escravista europeu, razão pela qual em 2007, fruto da mobilização da comunidade negra local, foi instalado o Museu Internacional da Escravidão, que também faz parte do complexo dos museus da cidade. Localizado na zona portuária que é patrimônio da humanidade pela Unesco, o museu apresenta em sua primeira seção alguns itens que são da coleção do World Museum, inseridos em uma narrativa que busca apresentar a diversidade das populações africanas antes do estabelecimento do tráfico de escravizados. O museu contém em seu acervo diversas obras de artistas contemporâneos cujo objetivo é ajudar a lidar com o mal-estar da escravidão e de suas consequências no presente, sobretudo o racismo e as desigualdades.